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Mensagem de SE. O Presidente da República, Jorge Carlos Fonseca no Encerramento da 20ª Edição do Festival Internacional de Teatro do Mindelo (MINDELACT)

 

Domingo, 04 Outubro 2014

 

Mindelact: a ténue, pujante e criativa oscilação entre o sonho e a vida durante duas décadas

 

O sonho é a actividade da vida que permite de uma forma absoluta a relativização do tempo e do espaço.

Essas duas dimensões balizam e aprisionam as nossas vidas, limitam os nossos anseios e condicionam o nosso acesso a essa dimensão do ser, a um tempo desejado e temido, o domínio do maravilhoso.

Através do sonho libertamo-nos dessas contingências, apropriamo-nos do tempo, dissolvemos o espaço, amalgamando presente, passado e futuro, em espaços infinitos multifacetados. Assumimos a liberdade total que só aquele domínio pode conceder.

A chamada realidade espreita-nos, impõe-nos a sua presença, objectiva, concreta, espartilhada entre os eternos espaço e tempo, por vezes fascinante, mas amiúde dolorosa, sofrida.

 Felizmente, para além da evasão onírica, podemos, também, atingir outros níveis do ser, reconstruir a fantasia, recriar a vida, dar vida, alma, rosto, emoção, tensão, pulsão criativa às pessoas, ao mundo, às coisas grandes e pequenas, através da Arte.

Esta tem o condão de, por meio do Belo, dissolver senão apagar a aparente dicotomia entre a realidade e o sonho, entre o consciente e o inconsciente, entre o efémero e o perpétuo.

Mindelact é isso: sonho, fantasia, realidade, é Arte, é gente, é emoção, é um tempo sem tempo num espaço que, partindo de uma pequena e idolatrada cidade, se desdobra em espaços múltiplos que cabem apenas na torrente de emoções que todos os anos, ao longo de duas décadas, alimenta a essência da Alma das gentes, as profundezas do seu ser.

Apenas a genialidade da Arte, a ousadia dos criadores de eleição, poderiam gerar o onírico projecto de transportar vinte anos de emoções, suor, amor, vida para, Aqui e Agora, assumindo claramente a desconstrução  das categorias espaço e tempo.  

Apenas através dos caminhos de que falámos atrás, que temperam e libertam o criador, se poderia imaginar e assumir que todos os Pecados Capitais, os Sete e os demais, pudessem ser revividos, recriados, nesse ambiente, que é um autêntico hino à imaginação, à criatividade, à perseverança, à utopia

Neste momento de sonho, de alegria, de muita afectividade, na qualidade de amante do Teatro, de profundo admirador dessa plêiade de fazedores de emoções, saúdo de forma muito calorosa todos os que, oriundos das mais diversas paragens de Cabo Verde e do mundo, durante estes vinte anos, contribuíram para que fôssemos mais ricos, mais humanos e mais felizes.

Enquanto Representante da Nação cabo-verdiana exprimo a todos os membros do Mindelact, através de um dos seus elementos de proa, o actor, encenador e dramaturgo João Branco, o reconhecimento pela inestimável contribuição que têm dado à cultura cabo-verdiana e universal, por meio das artes cénicas, ao longo dos últimos vinte anos.

 

Fraternalmente,

 

Jorge Carlos Fonseca

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publicado às 18:56