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Discurso proferido por Sua Excelência Dr. Jorge Carlos de Almeida Fonseca, Presidente da República, no acto oficial das comemorações do Dia Nacional da Cultura e das Comunidades

idade Velha, 18 de Outubro de 2014

 

Excelências,

Ilustres Convidados,

Minhas Senhoras e Meus senhores,

Prezados Amigos,

 

Pela responsabilidade que tenho em promover a união entre todos os cabo-verdianos, incluindo, naturalmente, todos os que vivem no estrangeiro, sinto-me particularmente honrado e privilegiado em tomar parte desta grande festa que simboliza a expressão de um sentimento comum, profundo e verdadeiro, que espelha o orgulho de sermos filhos desta terra querida feita de “dez gronzin di terra que Deus espadja na mei di mar”…

Não sobram dúvidas de que a nossa cultura, medrada nestes mais de cinco séculos, é a nossa maior riqueza; de facto,  o que nos liga decisivamente, estejamos onde estivermos. 

 

Assim, o dia de hoje – 18 de Outubro –, o dia de exaltação da nossa forma de ser e de estar, indelevelmente, nos remete a um distinto e nobre filho destas ilhas - Eugénio Tavares - aquele que soube encarnar de forma quase que ímpar a alma crioula; Eugénio de Paula Tavares é personalidade multifacetada cujos contributos, em vários domínios, tributaram a afirmação da cabo-verdianidade, em um contexto, recorde-se, particularmente difícil, em que a política da alienação cultural constituía uma das facetas mais marcantes.

 

Associar o Dia Nacional da Cultura e das Comunidades a Eugénio Tavares, de tão natural que quase  se constitui numa redundância. Eugénio Tavares é Cabo Verde, cabo-verdianidade, morna, lirismo, poesia. A sua criação é de tal ordem profunda que assume a grandeza da essência das coisas simples, das que tocam, entranham-se, confundem-se com a respiração, a alegria, a tristeza, a vida, o amor.

Sem a genialidade de Eugénio Tavares o amor - esse sentimento sublime que é prazer e dor «… para que fomos gerados pelo amor, senão para sofrermos pelo amor?» e que, com a irreverência, apenas consentida aos iluminados, teve a sua transcendência cantada por ele com uma ousadia tal que até  ultrapassa Nosso Senhor, ainda que reconheça que é Ele  quem possui a sua semente-  seria possível?  

 

É possível amar sem Eugénio? Atingir a plenitude desse sentimento sem o sopro, quase divino, desse homem que consegue fazer do som da palavra, da criatividade uma parcela tão real, concreta e inefável do nosso ser?  Eu diria que não. Isto é, que eu e, provavelmente muitos cabo-verdianos que têm a felicidade de ter a sua alma cabo-verdiana  alimentada pela sua arte, não concebemos o amor sem Eugénio. 

 

Manel de Novas insurgiu-se contra os que não sentem, não bebem, não idolatram, não veneram e nem cultivam a morna. Questionou, de forma, confessemo-lo, discutível, a cabo-verdianidade de quem, mesmo sendo filho das ilhas, não se reconhece nessa manifestação cultural profundamente cabo-verdiana que tem no Eugénio Tavares o seu criador maior.

 

Eugénio, o maior, conseguiu captar o que somos, o que sentimos, o que vivenciamos e sonhamos e transformá-lo em algo que, é, genuinamente, nosso e simultaneamente nos ultrapassa, fazendo-nos mais ricos, mais gente, mais cabo-verdianos.

 

Minhas Senhoras, meus senhores,

Caros concidadãos,

 

A Cultura tem essa característica singular de igualar o que é diferente - pessoas com ideias diversas, percursos muito diferenciados, objectivos , interesses, aspirações, por vezes opostos - e de conferir originalidade, identidade, num mundo em que a multiculturalidade é a riqueza maior.

 

Através da Cultura o Ser cabo-verdiano se afirma. Não interessa se nasceu no país  ou no exterior, na cidade ou no campo, se conhece ou não o chão das ilhas.  O que conta é que o seu ser é ritmado pela cultura de Cabo Verde, pela música, pela língua, pelo modo de estar, de lidar com os outros, de se relacionar com o mundo.

 

É tendo em conta toda esta riquíssima realidade que há algum tempo afirmei que a nossa Cultura é a minha Pátria. Ela contém e ultrapassa o nosso querido torrão e tem o condão de abarcar pessoas de todos os quadrantes, de todas as cores, de todos os credos. É ela que consubstancia a Nação que, como sabemos, antecede o próprio Estado.

 

Eugénio Tavares elevou um dos seus elementos fundamentais, a morna, a níveis sublimes e pouco mensuráveis, utilizando de forma magistral uma das nossas mais importantes ferramentas identitárias, a nossa língua.

 

A língua cabo-verdiana, importantíssimo instrumento de comunicação e afirmação,  assume no vate e pensador bravense  a qualidade de ponte de emoções, de elo de comunicação entre almas, transcendendo, assim, aquela condição e assumindo a de parcela importante da nossa subjectividade, de pedaço dessa mesma alma.

 

Ilustres convidados,

Cultura é vida, é relação com os outros, é também a busca permanente  ainda que nem sempre consciente, da relação com o Belo.

 

Essa multifacetada relação  tem conhecido na música uma das suas expressões mais dinâmicas e criativas, com uma plêiade de criadores  e intérpretes jovens e menos jovens que têm levado os sons  e os silêncios da nossa alma espalhada pelo mundo  aos mais diversos recantos  do planeta, assumindo, através dessa arte,  a nossa verdadeira dimensão.

 

Muitos eventos musicais têm ocorrido no país e na diáspora, juntando milhares de pessoas ou grupos mais restritos, para se deleitarem com a nossa música e com os sons dos outros, alimentando essa simbiose, quase sempre apropriada de forma criativa.  De modo mais ou menos espontâneo  festivais de música, têm tido lugar nos mais diversos espaços, proporcionando autentico arco iris sonoro.

 

Interessa realçar uma tendência cada vez mais forte, no país e na diáspora, no sentido da promoção dos géneros tradicionais  não só na sua forma convencional,  como também através de novas roupagens  sonoras que procuram  inovar sem descaracterizar.

 

As artes cénicas, particularmente o teatro, de forma espontânea, têm conhecido apreciável movimentação, que traduz alguma intensificação de actividades que sempre existiram em quase todas as comunidades. 

 

O impulso que o festival Mindelact tem imprimido ao teatro em termos de estímulos, exibições, intercâmbio e capacitação, tem sido de grande valia.

 

Minhas senhoras, meus senhores,

Uma das bandeiras de grande relevo da nossa Cultura é a literatura cabo-verdiana que, como sabemos, é um dos elementos  conformadores da nossa identidade. Os nossos escritores, o poeta Eugénio Tavares incluído, têm tido papel de relevo no nosso panorama, descrevendo a nossa maneira de ser, cantando as nossas alegrias e assumindo na poesia e na prosa as nossas angústias e anseios  na  perspectiva da universalidade.

O Prémio Camões, atribuído a Arménio Vieira, é um tributo ao talento desse poeta e, cremos, também, o reconhecimento da maturidade da nossa literatura, edificada graças à criatividade de inúmeros homens de letras, como o poeta Aguinaldo Brito Fonseca  e  o contista Virgílio Pires,  já falecidos e dois nomes por vezes pouco lembrados entre nós.

 

A intrepidez de Aguinaldo Fonseca, recentemente falecido,  através da sua inquietação permanente, inspirou muitos jovens e contribuiu de modo muito particular para a conformação dos ideais  de resistência e de nacionalismo de várias gerações. Devemos muito a este grande poeta, o de «Linha do Horizonte», de quem se diz (quem o conhece e conhece a obra: José Cunha) que «… não se pode dizer que tenha sido esquecido. Se ele foi esquecido, inconsciente e involuntariamente pelos outros (muita gente fazia-o morto há muitos anos), foi porque ele assim o quis, permanecer, consciente, voluntária e ferozmente, anónimo. ABF foi antes de mais, e acima de tudo, o esquecido de si mesmo. E é por isso que o seu ‘esquecimento’ é ainda mais injusto e doloroso. Ninguém fez por contrariar esse apagamento voluntário. Viveu anonimamente, e morreu anonimamente, sem se lamentar…».

Por isso, nomear Aguinaldo Brito Fonseca na Cidade Velha, é um acto de paradoxal justiça, pois ele foi aquele que nos lembrou que não foram SÓ os navegadores que nos legaram estas terras, como disse ele no emblemático poema HERANÇA “O meu avô escravo/legou-me estas ilhas incompletas/este mar e este céu.”. «… Aguinaldo Brito Fonseca não morreu esquecido de ninguém, morreu como quis morrer, assim mesmo, não lembrado, sem ser incomodado e sem incomodar ninguém…»

 

Virgílio Avelino Pires, PALADINO DA LIBERDADE,  fez da sua escrita um hino à insubmissão e à dignidade e, talvez por isso, a sua contribuição  tenha sido algo silenciada.

Virgílio Pires, conhecido entre os amigos por Djila, é um escritor de excepção, autor de HERANÇA, nome que é também o da obra onde se reúnem todos os seus contos. «…Dizer dele que era um grande escritor de contos curtos, é um rótulo expedito para não ver o essencial. O conto homónimo onde o livro vai buscar o título não é apenas uma obra prima literária, é um texto fundacional…»,  assevera-nos um estudioso de Virgílio Avelino Pires (Luis Cunha). «…Virgílio Avelino Pires com esse texto tocou como nenhum outro o mais fundo e essencial da alma cabo-verdiana… ele desenhou pela primeira vez a figura inteira, integral, total (do ponto de vista humano, filosófico, religioso, mítico…) do Homem Caboverdiano. Com Puxim, Virgílio Avelino Pires conseguiu que a ideia abstracta e idealizada de um ser, de uma figura colectiva, se materializasse, se tornasse uma referência tangível, sólida, real, próxima, familiar, de carne e osso…»

 

Ora, falar de Virgílio Avelino Pires na Cidade Velha, território onde a nossa fundação bebe as suas raízes, é falar do gesto fundador de Puxim, porque, entre muitas outras coisas, ele explica como ninguém o que foi e tem sido a cabo-verdianidade. Ele criou para nós o primeiro herói cabo-verdiano, Puxim. Aquele que lutou contra tudo e contra todos (Deus, Natureza, Homens, Morte), e é no meio da solidão total, do mais absoluto abandono, que ele, qual fénix crioulo, renasce das suas próprias cinzas, e nos torna seus herdeiros, afagando na ponta da sua enxada órfã, a terra da esperança e do futuro, este país onde hoje nos encontramos como Nação. Puxim representa a esperança, a força espiritual, a força interior para lutar e enfrentar as adversidades, a fé inamovível no futuro. Como diria Aguinaldo Brito Fonseca em outro poema, foi "Pela estrada longa da minha esperança" que aprendemos com Puxim o "Cântico da manhã futura" (Osvaldo Alcântara)...».

 

 

Minhas Senhoras e meus senhores,

Caros Amigos,

 

As artes plásticas afirmam-se cada dia mais e vão tendo reconhecimento além-fronteiras. Cristalizam as nossas emoções em cores mais vivas ou menos vivas ou a preto e branco. Os nossos pintores fotografam com muita arte a sua e a nossa alma.

 

A dança tem procurado conquistar o seu espaço, percorrendo, com graça,  leveza e de modo decidido, as veredas por vezes estreitas entre  o  tradicional, o clássico  e o moderno.

 

As manifestações espontâneas das diferentes formas de criatividade  cultural mais ou menos artísticas, que no Carnaval, atingem,  em certas parte país do território, expressão relevante e de claro interesse,  são a matéria prima que necessita de ser melhor aproveitada e incentivada.

 

Excelências,

Ilustres Convidados,

Minhas Senhoras e Meus senhores,

Prezados Amigos,

 

Torna-se necessário encarar as  actividades culturais  numa perspectiva que ultrapassa a visão mais ou menos de inércia da Cultura.  É claro que caberá sempre aos artistas e promotores da cultura criar na máxima liberdade. A criação é por natureza uma actividade  livre e individual , mesmo quando  a produção é colectiva. Não existe verdadeiramente arte e literatura autêntica sem liberdade.

 

Mas para  se desenvolver  e promover toda essa  potencialidade, são necessários meios,  que vão além da predisposição artística e do apoio pontual. Necessita-se  de investigação, de  espaços físicos adequados, de escolas, de professores, de financiamentos, de descentralização.

 

Saudamos algumas importantes iniciativas recentes, como os projectos de criação  do Ballet  e da Orquestra nacionais. A iniciativa, recente,  de uma articulação entre a educação e  a  cultura é também digna de elogio.

 

Acredito que com os recursos disponibilizados  não se pode fazer muito mais do que tem sido feito. Por isso entendo que  deve-se  ser mais ousado. Muito mais. Pela importância que a Cultura tem para a Nação, enquanto cimento indissolúvel dos cabo-verdianos espalhados pelas ilhas e pelo mundo ela deve ser objecto de uma atenção muito particular e dispor de meios muito mais significativos.

 

Não é possível avançar muito apenas com a espontaneidade, com a improvisação. A cultura cabo-verdiana necessita de muito mais. As mulheres e homens que se dedicam de corpo inteiro à recriação e embelezamento da nossa alma necessitam de muito mais.

Minhas Senhoras e meus Senhores,

Ilustres Convidados,

 

Celebrar o dia Nacional da Cultura e das Comunidades aqui na Ribeira Grande de Santiago, no sítio histórico Cidade Velha, constitui um convite ao reencontro com a nossa própria história.  Aqui, das aventuras e circunstâncias históricas, não raras vezes dramáticas, de vários povos, emerge uma simbiose humana singular que enforma o início da nossa identidade, da nossa maneira peculiar de sentir, de pensar e de viver.

O imponente título Património Mundial da Humanidade que hoje ostenta Cidade Velha acresce à nossa experiencia histórico-cultural um valor transcendente e uma enorme responsabilidade na sua preservação, pois, deixou de ser legado que só a nós nos diz respeito para erigir-se em apropriação da  humanidade.

 

De certo modo  somos um património da Humanidade. A nossa presença  e trajectória no mundo, feita de tenacidade, perseverança, abertura ao outro, pedaços vários, justificam tal afirmação. O berço da nossa nacionalidade já obteve esse reconhecimento que, naturalmente, ultrapassa o emblemático território da Ribeira Grande  para se alojar nas profundezas de todos os cabo-verdianos.

 

É imperioso que cuidemos de nós. É fundamental que nos protejamos. Temos de nos preservar. Defender  a Cidade Velha é imortalizar,  através do concreto, esta nossa forma de estar e de participar  do  mundo.   O sentido de história, da grandiosidade que representa esse património, que é da humanidade, tem de guiar a nossa mente, ampliar os nossos horizontes, franquear os nossos caminhos, relativizar as contingências, para que assumamos, em toda a plenitude,  o legado  que um processo histórico, por vezes muito doloroso, colocou nas nossas mãos. Temos de estar à altura de nós mesmos. Não podemos abdicar das nossas responsabilidades. Não podemos permitir que debilidades maiores ou menores, nos aprisionem, impondo-nos um perigoso movimento circular que poderá dar satisfação a determinadas  e discutíveis necessidades, mas que fazem perigar o que é fundamental. Pelo contrário, temos o imperativo  patriótico de tudo fazer para que todas as energias, capacidades e responsabilidades de todas as pessoas, de todas as entidades, sejam mobilizadas e canalizadas para a defesa e promoção da Cidade Velha, da  dignidade construída com muita dor e adubada com muito amor.

 

Excelências,

Ilustres Convidados,

Minhas Senhoras e Meus senhores,

Prezados Amigos,

 

Somos um património da humanidade. O reconhecimento dessa realidade engrandece-nos. Engrandece a humanidade. Somos portadores de uma cultura cuja pujança se tem afirmado em diferentes áreas, mas que na música, particularmente na Morna,  tem encontrado a sua expressão mais completa e profunda.

 

Essa expressão da cabo-verdianidade, seguramente uma das mais autênticas  ao lado da língua cabo-verdiana com a qual quase sempre se funde, está em vias de ser proposta para património imaterial da humanidade.

 

Como se sabe,  a concretização dessa legitima pretensão requer um exigente percurso que, para além de demonstrar a sua consistência, assegure importantes desdobramentos após a outorga do título de património imaterial da humanidade.

 

Saúdo e estimulo a  Comissão Nacional que, com mérito, em condições nem sempre favoráveis, se tem ocupado desse complexo e importante processo. Uma iniciativa desta natureza merece o inequívoco apoio de todos os cabo-verdianos  e muito particularmente do Chefe de Estado.

 

Entendo que todas as condições devem ser asseguradas  para que os objectivos preconizados e que transcendem todas as personalidades e instituições envolvidas, possam ser atingidos.

 

Todos nós, mas muito particularmente, Eugénio Tavares, B.Leza, Ano Nobo, Cesária Évora, Orlando Pantera, Manuel de Novas, entre muitos outros, merecemos isso.

 

Excelências,

Ilustres Convidados,

Minhas Senhoras e Meus senhores,

Prezados Amigos,

 

Celebra-se hoje, também, o dia das comunidades, dessa nossa parte espalhada pelo globo e que tem Cabo Verde por referência maior, devido  a  laços familiares,  de consanguinidade mas, sobretudo e fundamentalmente, à seiva vivificadora que é a Cultura.

 

Essa comunidade profundamente ligada à terra, muitas vezes sem a conhecer- “ Sou da Brava mas nasci aqui”, ouve-se com frequência no exterior - é parte essencial de Cabo Verde. Através dessa gente que trabalha, que vive, que ama, que estuda, que pesquisa, que sofre, no estrangeiro e que no dia-a-dia abraço no meu pensamento e que, sempre que posso,  beijo na face, o nosso país  cresce, agiganta-se.

 

Orgulho-me, por exemplo, quando leio que o Kola San Jon, expressão cultural cabo-verdiana que tem desempenhado, no seio da nossa comunidade na Diáspora, em particular a comunidade residente em Cova da Moura, Portugal, um papel primordial de mobilização social e de reforço identitário da mesma, mereceu reconhecimento e inclusão no Inventário do Património Cultural Imaterial de Portugal, devido a um trabalho intenso feito pela Associação Cultural Moinho da Juventude e outras entidades. É Cabo Verde que, destarte, se projecta fora dele, melhor, fora das ilhas.

 

Em todos os continentes os cabo-verdianos dão a sua contribuição, nas áreas mais diversas para que o mundo seja melhor, fazendo da cabo-verdianidade uma bandeira desfraldada em todos os recantos do globo.

 

Importa ressaltar que, se a ligação com a terra mãe, tem na Cultura, um dos seus elementos fundamentais, ela não se processa de forma unilateral. O intercâmbio é permanente e cada vez mais intenso. A influenciação nos dois sentidos é cada vez mais evidente não apenas no domínio da música, mas também em várias outras áreas culturais e mesmo em outros âmbitos, como no desporto,  na economia, na política.

Daqui, de Cabo Verde vivemos intensamente os sucessos dos nossos patrícios radicados no exterior.

 

Naturalmente que também nos angustiamos com os problemas que os afligem, particularmente nos contextos de crise, e, muito especialmente, com as dificuldades dos que se encontram em países onde ainda  não conseguem ter as necessidades mínimas satisfeitas como são as comunidades de S.Tomé  e Moçambique.

 

Em relação a estas, prosseguiremos com denodo os esforços junto às autoridades nacionais e às desses países no sentido de se conseguir a melhoria possível das suas condições de vida. Igualmente acompanharemos de muito perto a situação dos cabo-verdianos que, nesses e noutros países, ainda, lutam com grandes dificuldades para obter a nacionalidade cabo-verdiana.

 

Prosseguiremos, no estrito respeito pela Constituição da República, os esforços no sentido de defender a adopção de medidas  que facilitem adequada  integração dos emigrantes cabo-verdianos nos países de acolhimento e muito particularmente os seus filhos nascidos nesses países que, amiúde, enfrentam  sérios e complexos problemas de integração.

 

É provável que a próxima  entrada  em vigor do Acordo de  Readmissão de Pessoas que Residem sem Autorização assinado com a União Europeia venha  criar  dificuldades adicionais a alguns emigrantes que se encontram na Europa.  É intenção do Chefe de Estado acompanhar, com toda a atenção, essa realidade e contribuir de forma decidida para minimizar os eventuais constrangimentos dela decorrentes.

 

Minhas Senhoras e Meus senhores,

O dia 18 de Outubro, aniversário natalício de Eugénio Tavares, é uma data que utilizamos como pretexto para reafirmar a nossa condição de cabo-verdianos espalhados por esses vasto mundo e unidos por esses laços indestrutíveis que só  a Cultura pode tecer, alimentar e perenizar.

 

Neste dia não posso deixar de render uma homenagem muito especial às mulheres e homens de cultura que, nas ilhas e no mundo, com a sua arte fazem-nos sentir mais cabo-verdianos, mais responsáveis, mais críticos, mais humanos, mais belos e mais felizes. 

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publicado às 11:31